O processo de letramento e alfabetização no Infantil 5 na Parlenda
- Escola Parlenda
- 24 de out.
- 3 min de leitura
Por Ana Caroline Mayrhofer

Na Parlenda, o processo de letramento e alfabetização do Infantil 5 é vivido como experiência coletiva e situada, marcada por práticas cotidianas que dão sentido à escrita. Não se trata apenas de aprender letras e sons, mas de reconhecer a palavra como lugar de encontro, memória e invenção. Como afirma Soares (2003, p. 46), “alfabetizar letrando significa, simultaneamente, ensinar a ler e escrever e ensinar as práticas sociais da leitura e da escrita”.

Nesse percurso, o Espaço Mensageiro tornou-se território privilegiado: bilhetes, cartas e recados circulam entre as crianças e educadores, revelando que escrever é dialogar, planejar e criar laços. A leitura e a escrita passam a acontecer justamente porque a criança identifica a função social da escrita e passa a empregar seu valor naquele funcionamento. Como aponta Vygotsky (1984, p. 119), “a escrita deve ser entendida não apenas como habilidade motora, mas como um sistema particular de símbolos e signos cuja função social é fundamental para sua apropriação pela criança”.

Assim, ao escrever um bilhete para um colega, ao ler um recado no quadro ou ao revisitar os registros no caderno de vivências, a criança compreende que escrever e ler não são apenas exercícios escolares, mas modos reais de comunicar, organizar e compartilhar experiências.
Esse processo também é atravessado pelas dimensões emocionais, pois, como lembra Wallon (1975, p. 133) “A afetividade é o centro da vida psíquica. Ela imprime às funções cognitivas a direção que assume no comportamento”. No percurso de letramento e alfabetização, a emoção importa tanto porque é ela que dá sentido às práticas de leitura e escrita: escrever um bilhete nasce do desejo de comunicar, ler um recado se conecta ao vínculo com o outro, registrar uma experiência no caderno de vivências envolve memória e pertencimento. Sem esse investimento afetivo, a escrita correria o risco de se reduzir a mero exercício mecânico; com ele, transforma-se em linguagem viva, carregada de intenções e significados.

O letramento e a alfabetização no Infantil 5 da Parlenda são inseparáveis das múltiplas linguagens que atravessam a infância: o desenho, a oralidade, o gesto, a brincadeira. Malaguzzi (1999, p. 75) nos recorda que “as cem linguagens da criança” precisam ser acolhidas, pois são elas que abrem caminhos para que a palavra escrita seja vivida como parte de um todo maior. Nesse movimento, as crianças experimentam hipóteses sobre o sistema de escrita, mas sobretudo aprendem que a palavra tem força porque nasce do vivido.
Na prática pedagógica da Parlenda, inspirada pelo pensamento socio-interacionista e pela escuta reggiana, ler e alfabetizar é também reconhecer a leitura de mundo das crianças. Paulo Freire (1996, p. 30) nos lembra que “a leitura do mundo precede a leitura da palavra”, e é a partir dessa leitura que o cotidiano se transforma em texto. Ao observar, narrar e registrar as descobertas, as crianças tornam-se autoras de suas próprias histórias.

Assim, o processo de letramento e alfabetização no Infantil 5 da Parlenda não é apenas um conteúdo a ser ensinado, mas uma experiência vivida: feita de bilhetes trocados, palavras inventadas, registros compartilhados, emoções desenhadas e histórias que se entrelaçam. É nesse entremeio que a alfabetização e o letramento ganham corpo, tornando-se caminho de pertencimento, identidade e criação. Quando a emoção se alia à palavra, a escrita deixa de ser apenas técnica para se tornar encontro, e cada registro passa a carregar a marca do vínculo, da memória e da expressão singular de cada criança.

Referências
FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. 25. ed. São Paulo: Paz e Terra, 1996.
MALAGUZZI, Loris. As cem linguagens da criança. In: EDWARDS, Carolyn; GANDINI, Lella; FORMAN, George (orgs.). As cem linguagens da criança: a abordagem de Reggio Emilia na educação da primeira infância. Porto Alegre: Artes Médicas, 1999. p. 75-98.
SOARES, Magda. Letramento: um tema em três gêneros. 2. ed. Belo Horizonte: Autêntica, 2003.
VYGOTSKY, Lev Semionovitch. A formação social da mente: o desenvolvimento dos processos psicológicos superiores. 6. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1984.
WALLON, Henri. A evolução psicológica da criança. Lisboa: Edições 70, 1975.






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