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Mão de criança e tronco de árvore

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Linguagem gráfica e pictórica

A linguagem gráfica/pictórica é uma forma essencial de expressão durante a infância, conectando o desenvolvimento motor, cognitivo e emocional das crianças. O desenho, como forma de linguagem, oferece oportunidades para que elas explorem o mundo ao seu redor e expressem suas percepções internas. Edith Derdick (2015) nos apresenta que a linha que emerge da interação entre a mão, o gesto, o instrumento e a matéria ou superfície tem sua origem em um ponto de contato que é posto em movimento. Esse movimento deixa marcas e indícios sobre as superfícies subjacentes. É perceptível que, por trás de uma linha desenhada ou de um sinal gravado, se encontra a evidência da presença humana. A linha, que deixa um rastro evidenciado pelo traçado, é resultado de uma ação que é intrinsecamente pessoal e singular.

O processo, que começa com a garatuja e evolui para representações mais complexas, é recheado de descobertas que envolvem os riscantes (lápis, giz, carvão, tintas), os suportes (papéis, paredes, chão) e os temas escolhidos. Esse caminho não se trata apenas de desenhar; envolve a construção da identidade, o fortalecimento da autoexpressão e o desenvolvimento de habilidades de comunicação, com afeto e respeito às singularidades de cada criança.

Na garatuja, a criança ainda não busca representar uma realidade externa de maneira concreta. Seus traços são descoordenados e exploratórios, mas carregados de intenção, curiosidade e movimento. É nesse estágio que ela descobre a relação entre os movimentos do corpo e os traços deixados no papel, explorando livremente as possibilidades dos riscantes e suportes.   Oferecer um ambiente rico em materiais e liberdade criativa permite à criança perceber que suas criações têm valor. Ao não impor um significado ou exigir uma "boa" representação, o educador promove a autoconfiança, a autonomia e o respeito ao tempo individual de aprendizado.

À medida que a coordenação e a percepção se desenvolvem, as crianças começam a desenhar formas concretas ao olhar do adulto, como o autorretrato. O ato de desenhar a si mesmas é muito mais do que um exercício de técnica gráfica; é uma forma de construir a própria identidade e projetar como elas se veem no mundo. Esse momento é repleto de descobertas sobre o corpo, as emoções e o relacionamento com o espaço.

O autorretrato é uma ferramenta poderosa para desenvolver a autoestima e o sentimento de pertencimento. Quando a criança se vê como parte de algo maior, seu olhar sobre si mesma e os outros ganha profundidade. Ao respeitar essa fase com afeto, o educador valoriza cada etapa do desenvolvimento, incentivando a criança a se expressar de maneira autêntica. Quando as crianças se encontram na natureza, o autorretrato também ganha uma nova dimensão. Os elementos naturais podem ser incorporados na criação da própria imagem, seja através de folhas que representam os cabelos ou de pequenos galhos que formam os traços do rosto. Nesse ambiente, o autorretrato não é apenas uma representação gráfica, mas uma comunhão entre o eu e o ambiente. As crianças se percebem como parte desse todo maior, e suas criações refletem essa relação simbiótica.

O desenho de observação promove mais uma etapa no desenvolvimento gráfico, desafiando as crianças a traduzirem o que veem em formas gráficas. Esse exercício vai além da reprodução visual, pois incentiva o olhar atento e o foco nos detalhes. A criança é convidada a observar e representar o mundo à sua volta, desenvolvendo habilidades cognitivas e motoras refinadas. Essa etapa valoriza a capacidade da criança de interpretar e organizar o que vê. Ao incentivá-la a observar, estimula o pensamento crítico, que será essencial em outras áreas do conhecimento.

Como parte do processo de criar com arte temos a exploração das cores e suas combinações, que oferece à criança um novo repertório de linguagem gráfica. A mistura de tintas e a criação de novas cores permitem uma vivência sensorial e estética única, onde as emoções podem ser expressas por meio das tonalidades. A cor assume um papel central na forma como a criança vê e representa o mundo. A criação de cores é um processo que ensina muito sobre experimentação e autoexpressão. Proporcionar essa liberdade, permite que a criança viva a experiência com prazer, sem medo de errar, valorizando o processo criativo acima do resultado.

O valor dessa jornada reside não apenas nas habilidades adquiridas, mas no acolhimento da singularidade de cada traço e de cada expressão. Vivenciar o processo de desenvolvimento gráfico com afeto e respeito é fundamental. O papel do educador não é impor significados, mas acolher as expressões individuais das crianças, criando um espaço seguro onde elas possam se expressar sem julgamentos. Quando as crianças sentem que seus traços, suas cores e suas formas são valorizadas, elas desenvolvem confiança e se sentem seguras para explorar cada vez mais a linguagem gráfica/ pictórica.

Viver esse processo gráfico e pictórico em uma escola onde o contato com a natureza é constante, as possibilidades de expressão gráfica se expandem de forma orgânica. O ambiente natural oferece uma riqueza de elementos — texturas, cores, formas e movimentos — que inspiram as crianças a explorar. Nesse cenário, o grande palco para as mãos dançarem é trazido por elas mesmas, utilizando os recursos da natureza como suportes e riscantes, tornando o processo de desenhar uma vivência sensorial completa, conectada ao mundo ao seu redor.

No ambiente natural, as crianças encontram uma infinidade de materiais que podem transformar suas garatujas em explorações sensoriais. Galhos, folhas, pedras e até a terra podem servir como riscantes e suportes. A garatuja, nesse contexto, vai além do papel e do lápis; ela é um gesto que envolve todo o corpo da criança, dançando em harmonia com a natureza. Elas experimentam os primeiros traços diretamente no chão de terra, na areia ou usando galhos para desenhar na lama, vivenciando uma forma de expressão livre, sem amarras.  Ao possibilitar que as crianças explorem seus traços na natureza, respeitamos seus interesses e potencializamos sua relação com o ambiente. A natureza, como palco aberto, oferece liberdade para que a criança experimente os materiais que mais chamam sua atenção, dando-lhe autonomia e confiança para se expressar.

No contato com a natureza, o desenho de observação ganha novos contornos. As crianças são convidadas a observar de perto os detalhes das plantas, dos insetos, das pedras, e a representar o que veem. O ambiente oferece uma diversidade tão rica que desperta o interesse natural pelo detalhamento, pelas cores e texturas. As formas complexas das folhas, as diferentes tonalidades do solo e a vivacidade da fauna local se tornam fontes de inspiração para a representação gráfica.



O ambiente natural oferece uma infinidade de cores e tonalidades que despertam nas crianças o desejo de recriá-las. As folhas verdes, as flores coloridas, a terra em diferentes tons de marrom, o céu em suas várias nuances de azul — tudo isso estimula a experimentação cromática. As crianças podem usar elementos naturais para criar pigmentos ou misturar tintas, inspirando-se nas cores da natureza para suas próprias criações.

Na parlenda onde o contato com a natureza é parte integrante da prática pedagógica, o respeito pelos interesses das crianças e o afeto no processo de criação são fundamentais. Cada criança traz sua própria maneira de interagir com o mundo natural, e o papel do educador é oferecer oportunidades para que ela explore essas interações de maneira natural e significativa. 

Derdyk, reconhecida por sua vasta contribuição para a arte educação, oferece uma perspectiva única sobre como as crianças utilizam o desenho como uma forma expressão emocional: 

O desenho, linguagem que atravessa o arco da história e está sempre presente em todas as áreas do conhecimento, é linguagem inata: pertence a todos nós! O desenho é linguagem poderosa para a constituição de subjetividades sensíveis e pensantes. (Derdyk, 2015, p. 13-14)

Ressalta—se que o desenho não é meramente uma atividade visual, mas uma linguagem rica e profunda que permite que as crianças expressem e comuniquem suas emoções de maneira única. Cada traço, forma e elemento visual no desenho de uma criança é um meio de expressão que vai além das palavras, permitindo que elas compartilhem seu mundo emocional com outros.




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