Sentir com o corpo todo
- Escola Parlenda
- 28 de mar.
- 3 min de leitura
O acolhimento dos bebês e das crianças bem pequenas na Parlenda acontece de forma gradual e respeitosa. O vínculo com os adultos é o foco principal, a fim de que os pequenos possam sentir-se seguros e prontos para explorar ao redor. Assim, é de nosso entendimento que o ambiente da Casa dos Bebês não é simplesmente um espaço de cuidado, mas também de encontros e de conexões que possibilitam as investigações próprias dos bebês, pois acreditamos em suas potencialidades e modos únicos de habitar a escola.
Por esse motivo, a cultura do ateliê e o trabalho com projetos também são ativos na Casa dos Bebês, com o oferecimento de materiais e ambientes especialmente pensados pelos profissionais da escola para atender suas necessidades de pesquisa, sobretudo sobre o próprio corpo e a natureza que os acolhem.
Nessa perspectiva, temos a argila como uma linguagem que inaugura as vivências dos pequenos no ateliê, sobretudo por tratar-se de um material natural e de manipulação segura para eles. A argila também possui características próprias e que a tornam especial, tais como a sua maleabilidade, plasticidade e poder de transformação. Nas mãos dos bebês, ela se permite ser amassada, rasgada, perfurada e modelada, mutando sua forma e textura quando ainda se encontra hidratada.

Ao se aproximarem pela primeira vez do grande e pesado bloco de argila, é comum o assombro, que pode tanto gerar curiosidade, quanto medo. Porém, como anteriormente abordado, a partir da cumplicidade e o fortalecimento das relações que vão se formando entre os bebês e adultos de referência e entre os pares, vai-se construindo uma familiaridade com o material.
Muitas vezes, a exploração se inicia do colo da professora, que toca a superfície do bloco. Em outras, apenas o pezinho se permite tingir com a argila. Os pequenos toques, com as pontas dos dedos, podem trazer estranhamento acerca da textura e da temperatura geladinha, mas logo os bebês tomam a decisão de seguir na exploração, sobretudo ao observarem outros amigos mais aventureiros. Assim, o bloco torna-se apoio para sentar-se, levantar-se ou para cavalgar em uma brincadeira de cavalinho. O bloco também é abraçado, beijado e, nele, as crianças sobem e iniciam o desenvolvimento dos primeiros alfabetos da linguagem.

Até mesmo os bebês que ainda exploram o material deitados, são capazes de esticar os bracinhos e imprimir a força necessária para deixar marcas profundas com suas mãos em garras, arranhando a superfície da argila e arrancando fragmentos que jogam para longe ou entregam para a professora, como verdadeiros tesouros. Apertam, amassam a argila, e tentam experimentá-la, levando-a até a boca, pois, para as crianças bem pequenas, os sentidos se misturam. É necessário sentir com o corpo todo, dá vontade de engolir o mundo.
Nesses momentos, observamos com atenção e acolhimento, mas o silêncio é também necessário para respeitar a exploração de cada bebê, com o adulto mantendo-se como apoio e segurança de que está tudo bem. Ao mesmo tempo, como pesquisadores, estamos presentes para documentar, sobretudo por meio de imagens e narrativas, cada novo gesto, cada nova conquista, aparentes nos sorrisos e manchas deixadas na pele, unhas e roupas.
De repente, ao observar as próprias mãos tingidas, eles se dão conta de que não só são capazes de transformar a argila, mas também de serem transformados por ela.
Anamélia Sampaio - Atelierista


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